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13 de dezembro de 2010

O Filho da Noiva

El Hijo de la Novia (Argentina, 2001)
Direção: Juan José Campanella
Gênero: Dramédia / Romance

por Dudu Lessa

Em uma determinada cena do filme 'O Filho da Noiva', o protagonista Rafael Belvedere (intepretado por Ricardo Darín), cansado da rotina exaustiva de gerenciar um restaurante herdado pelo pai, comenta sobre vender o estabelecimento para uma grande rede de restaurantes. “Hoje é muito difícil ser sozinho. As grandes redes conseguem preços de atacado. Mas você lutou por isso, por um mundo mais eficiente.”, diz Rafael. O pai, ao ver o filho argumentar isso enquanto discutia no celular com um estranho e subornava um policial que o havia parado, responde: “Não lutei por um mundo mais eficiente. Lutei por um mundo melhor”.

A dualidade entre eficiência e qualidade de vida é um dos planos de fundo que regem a produção argentina de 2001. Em meio a uma crise econômica, o protagonista vê a sua vida à prova quando sofre um infarto, e percebe que não consegue gerenciar o restaurante da família, o relacionamento com a sua namorada, a proximidade com a filha e a sua relação com a mãe, que vive em um asilo e sofre de Alzheimer.

Mas a tragicomédia de Juan Jose Campanella (El Secreto de tus Ojos, 2009) não se baseia apenas nisso: em uma sutil crítica à Igreja Católica, Campanella aborda, com precisão, os direitos dos idosos e o contraste entre o dogma cristão e a realidade humana quando o pai do protagonista, interpretado por Hector Altério, decide casar-se na Igreja pela primeira vez com a sua mulher, Norma (Norma Aleandro), que vive numa realidade confusa devido à doença.
Sem ser piegas sobre o amor, o diretor e roteirista levanta essas questões com graça e humor: em uma cena, Rafael discute com sua namorada através da câmera do interfone; em outro momento, o amigo de infância do protagonista declara-se apaixonado pela namorada do amigo durante a gravação de um filme, no qual ambos interpretam figurantes. (Ambas a cenas são antológicas!)

A direção de Campanella é segura e inova pouco – salvo as exceções das cenas citadas acima. Entretanto, o time de atores escolhidos reforça o sucesso do filme ao expor a dificuldade em perceber, no caos do dia-a-dia, a importância de amar e dar prioridade aos sentimentos e às relações.

Por fim, a lição d’O Filho da Noiva é clara e se resume em um diálogo do protagonista com o potencial comprador do restaurante. Ao questionar se Rafael tinha um ‘plano B’ para o estabelecimento, devido à crise que se instalou na América Latina em 2001, Rafael responde, objetivo: ‘Esta crise? Quando não vivemos em crise?’. ‘O Filho da Noiva’ trata, com maestria, sobre a arte em lidar com os inúmeros problemas da vida, e a paz em saber ver, no caos, a beleza e o amor.

2 comentários:

Aline Gonçalves disse...

Que post excelente! Ótima análise! Vamos prestigiar a Mostra de Direitos Humanos!

Película Criativa disse...

Ótimo texto.
O Filho da Noiva é um dos melhores filmes argentinos que já assisti!