!-- Javascript Resumo Automático de Postagens-->

19 de dezembro de 2010

Talking About Short Films #25 | Eu Não Quero Voltar Sozinho

Eu Não Quero Voltar Sozinho (Brasil, 2010)
Direção: Daniel Ribeiro
Gênero: Drama

por Marcel Gois

Não é surpresa pra ninguém (que nos acompanha) que curtas também tem espaço garantido aqui no blog, assim como teve na 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos que aconteceu aqui em Aracaju até o última quinta-feirta (16/12). E é justamente sobre um dos curtas exibidos na mostra que venho falar aqui hoje. "Eu Não Quero Voltar Sozinho" conta em 17 min um pouco sobre a dia a dia de Leornardo (Ghilherme Lobo), um adolescente cego que se depara com uma mudança em sua rotina depois da chegada de um novo aluno em sua escola. Ao mesmo tempo em que ele tenta lidar com o ciúme da sua melhor amiga Giovana (Tess Amorim), Leo tenta entender os sentimentos despertados pelo seu novo amigo Gabriel (Fábio Audi).

É Daniel Ribeiro (diretor de Café Com Leite, que já passou por aqui) mais uma vez abordando o tema homosexualidade em seu trabalho. Dessa vez sob uma ótica diferente. Se no premiado "Café com Leite" os protagonistas já eram adultos e sabiam muito bem o que queriam pra suas vidas amorosas, aqui, em "Eu Não Quero Voltar Sozinho", a descoberta do desejo pela pessoa do mesmo sexo é a 'bola' da vez. Devo dizer que admiro a capacidade do Daniel em conseguir tratar o tema com tanta sutileza unindo questões socialmente relevantes e, aqui em especial, admiro ainda a coragem em trata o tema sob uma ótica quase infantil e conseguir fazer um trabalho digno de todos os elogios.

Pré adolescentes descobrindo o amor, carinho e respeito por uma pessoa do mesmo sexo. Filmado de uma forma linear e condizente com o trabalho sutil do Daniel, já visto no seu curta anterior, como se um derivasse do outro. Um curta simples e bem produzido, com uma direção segura e um roteiro eficiente, sem se tornar piegas em momento algum, tudo muito discreto e de bom gosto. Mais do que recomendado!

Já fiquei sabendo que existe um projeto pra transformar o curta em longa metragem. É esperar pra ver. Eu sou team Daniel Ribeiro. Tiro o chapéu pra ele e espero mais coisas boas sempre.
Leia Mais ››

13 de dezembro de 2010

O Filho da Noiva

El Hijo de la Novia (Argentina, 2001)
Direção: Juan José Campanella
Gênero: Dramédia / Romance

por Dudu Lessa

Em uma determinada cena do filme 'O Filho da Noiva', o protagonista Rafael Belvedere (intepretado por Ricardo Darín), cansado da rotina exaustiva de gerenciar um restaurante herdado pelo pai, comenta sobre vender o estabelecimento para uma grande rede de restaurantes. “Hoje é muito difícil ser sozinho. As grandes redes conseguem preços de atacado. Mas você lutou por isso, por um mundo mais eficiente.”, diz Rafael. O pai, ao ver o filho argumentar isso enquanto discutia no celular com um estranho e subornava um policial que o havia parado, responde: “Não lutei por um mundo mais eficiente. Lutei por um mundo melhor”.

A dualidade entre eficiência e qualidade de vida é um dos planos de fundo que regem a produção argentina de 2001. Em meio a uma crise econômica, o protagonista vê a sua vida à prova quando sofre um infarto, e percebe que não consegue gerenciar o restaurante da família, o relacionamento com a sua namorada, a proximidade com a filha e a sua relação com a mãe, que vive em um asilo e sofre de Alzheimer.

Mas a tragicomédia de Juan Jose Campanella (El Secreto de tus Ojos, 2009) não se baseia apenas nisso: em uma sutil crítica à Igreja Católica, Campanella aborda, com precisão, os direitos dos idosos e o contraste entre o dogma cristão e a realidade humana quando o pai do protagonista, interpretado por Hector Altério, decide casar-se na Igreja pela primeira vez com a sua mulher, Norma (Norma Aleandro), que vive numa realidade confusa devido à doença.
Sem ser piegas sobre o amor, o diretor e roteirista levanta essas questões com graça e humor: em uma cena, Rafael discute com sua namorada através da câmera do interfone; em outro momento, o amigo de infância do protagonista declara-se apaixonado pela namorada do amigo durante a gravação de um filme, no qual ambos interpretam figurantes. (Ambas a cenas são antológicas!)

A direção de Campanella é segura e inova pouco – salvo as exceções das cenas citadas acima. Entretanto, o time de atores escolhidos reforça o sucesso do filme ao expor a dificuldade em perceber, no caos do dia-a-dia, a importância de amar e dar prioridade aos sentimentos e às relações.

Por fim, a lição d’O Filho da Noiva é clara e se resume em um diálogo do protagonista com o potencial comprador do restaurante. Ao questionar se Rafael tinha um ‘plano B’ para o estabelecimento, devido à crise que se instalou na América Latina em 2001, Rafael responde, objetivo: ‘Esta crise? Quando não vivemos em crise?’. ‘O Filho da Noiva’ trata, com maestria, sobre a arte em lidar com os inúmeros problemas da vida, e a paz em saber ver, no caos, a beleza e o amor.

Leia Mais ››

5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos: Abutres

Carancho (Argentina, 2010)
Direção: Pablo Trapero
Gênero: Drama

por Marcel Gois

Começou na última sexta-feira (10.12), aqui em Aracaju, a 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul. Pela primeira vez ela chega à capital sergipana, com filme e curtas que abrangem temas sociais relevantes, divididos em programas diversificados e horários acessíveis. A abertura da mostra, que aconteceu no Cinemark Jardins, aconteceu com filme “Abutres”, a mais recente produção de Pablo Trapero (diretor do ótimo Leonera), que traz no elenco um dos atores argentinos mais populares, o Ricardo Darín, no papel de um advogado sem escrúpulos, que se aproveita de vítimas de acidentes para usufruir de indenizações.

Na Argentina, milhares pessoas morrem em acidentes de trânsito a cada ano. E atrás de cada uma das tragédias que acontecem existe uma máfia em busca de prêmios dos seguros através das brechas encontradas na lei passando a perna inclusive na família das vítimas que recebe uma porcentagem mínima do dinheiro adquirido. Sosa (Ricardo Darín) é um advogado que já teve sua licença casada e agora trabalha num escritório de quinta categoria e vive em hospitais públicos e delegacias em busca de potenciais clientes. Luján (Martina Gusman) é uma jovem médica recém chegada do interior e que por azar começa a trabalhar na unidade hospitalar onde Sosa ‘bate ponto’. A história entre os dois começa quando ela tenta salvar a vida de um homem que Sosa considera ser um cliente em potencial.

Trapero dessa vez explora ainda mais sua habilidade em retratar a realidade nua e crua (como foi visto antes em Leonera) dando ao filme um tom de documentário. Ele faz isso com a câmera na mão mostrando toda a confusão e tensão que é presenciar um acidente de perto e imprimindo na tela uma sensação de desconforto que é presente durante quase toda a projeção. O impacto que o filme causa é dirigido com muita segurança e destreza, capaz de deixar os espectadores de olhos grudados na tela, apesar das imagens impregnadas de sangue.

A dupla de atores principais desaponta em grande estilo, durante toda a projeção, mas principalmente na sequência final na qual o diretor demonstra toda sua habilidade e audácia em um plano sequência breathtaking. Juro que acabei o filme com uma dor no peito de tão tenso. Sem falar na sensação de desconforto com tanto acidente na tela.

O filme foi recebido como uma crítica pelas autoridades judiciárias do país, depois de ficar demonstrada na tela toda a habilidade desses ‘profissionais’ em forjar acidentes, criar vítimas e assim consegui extorquir o seguro através de falcatruas e conchavos com as próprias ‘vítimas’. E não por acaso o longa foi o escolhido para representar a Argentina na disputa pelo Oscar 2011 de melhor filme estrangeiro.

Leia Mais ››